
Indo diretamente ao assunto, porque sou introvertido, e as pessoas introvertidas recuperam energia a solo. Se fosse extrovertido iria (assim o deixasse o Covid!) para o meio de uma multidão de pessoas! “Ricardo, mas o que é que isso me interessa???”… interessa mais do que imaginas.
Eu estava exausto, totalmente “consumido” por meses de zoom calls, prospecção de clientes online, telefonemas e reuniões de todo o género e feitio. E eu sabia-o: eu tinha a noção clara de quão esgotado estava, de quanto precisava de me reequilibrar. Mas, principalmente, e porque me conheço a fundo… eu sabia COMO fazê-lo. Sabia que precisava de viajar, de ler, de estudar e de me preparar para mais um ano (que como ex-professor eu ainda penso em anos letivos), mas principalmente sabia que precisava de estar sozinho. Sem pessoas. Sem família. Sem amigos. EU, só eu. “Ricardo, mas ainda assim, o que é que isso tem a ver comigo???”, perguntas tu… tem mais do que pensas.
Quando desenhei o plano para os 10 dias, que teve desde 2 dias totalmente isolado numa ilha deserta a dormir em campismo selvagem em vários lugares por este Portugal fora, viajando de dia e de noite (mas há lá algo melhor que caminhar à noite no Alentejo, com um céu límpido e estrelado?!), eu “deveria” ter tido a oposição da minha esposa, talvez porque ia sozinho (e as tentações… ai, ai!). talvez por ir sem ela (ou vamos os dois ou não vai nenhum!); “deveria” ter tido a censura dos meus colaboradores, que ficaram a trabalhar no duro enquanto eu ia numa aventura incompreensível; “deveria” ter tido a oposição dos meus filhos, porque só o pai tira férias; ou “deveria” ter tido os amigos a demoverem-me, por acharem perigoso. Não tive nenhuma delas, e deixa-me explicar porquê:
a) A minha esposa confia plenamente em mim, porque a minha relação é baseada na confiança absoluta (mesmo os assuntos tabu, que causariam problemas em outros casais, são abordados de frente com toda a transparência), e por isso nem ela se preocupou com uma possível “facadinha” minha, nem eu dela (que ficou em casa sozinha)… a ideia é-nos absolutamente indiferente!
b) Por outro lado, a minha esposa conhece-me como ninguém, e por isso sabia que eu precisava desesperadamente dessa pausa, desse tipo de programa, de solidão (até porque eu, quando ando exausto, fico meio difícil de aturar!).
c) Os meus colaboradores foram os primeiros a confirmar que eu precisava de algo assim, porque sabem o quanto luto pela empresa, por um lado, e porque também eles confiam em pleno em mim (sabem que não faria nada para os prejudicar)… tal como eu confio neles. Na verdade nem se coloca essa questão, de tal forma nos identificamos com o nosso Código de Honra;
d) Os meus filhos (ou na verdade o Bruno, que a Alice ainda está “em estágio” na barriga da mamã Sofia) sabem que tudo faço por eles, e compreenderam facilmente que o pai precisa de se organizar. Ok, é verdade que o Bruno já é um jovem adulto, mas já assim era quando era ainda adolescente, essa idade tão difícil… sempre foi fácil compreender o pai, porque a relação sempre foi de uma abertura e partilha intensas.
e) E quanto aos amigos, tive o mesmo de sempre: os que acenaram a cabeça (“este já não dá mais que isto!…”) e os que se ofereceram para ajudar (obrigado Amélia por uma semana com a Sofia, para que eu pudesse ir em paz, com a certeza de ter a retaguarda protegida em casa).
“RICARDO, MAS O QUE É QUE ISTO TEM A VER COMIGO???!!!!!”, pensas tu, aos berros na tua mente? Tem tudo!!! Pelo menos para, provocatoriamente, te ajudar a olhares a tua vida de outra forma. Vamos lá: tu sabes o que precisas, quando estás no limite? Conheces-te ao ponto de saberes o que está a fazer falta? E quando descobres, tens apoio da tua cara-metade? Tens apoio dos teus filhos? Dos teus colegas/colaboradores? Dos teus amigos? Ou tens que suportar o peso do mundo sozinho/a? Se sim, parabéns! Se não… desculpa, mas vou espetar o dedo na ferida mais um pouco.
Indo ao cerne da questão, este texto tem tudo a ver contigo porque pretende provocar-te, abanar-te, fazeres-te sentir pequenino. Porque a DOR é um maravilhoso gatilho de mudança!
Se não sabes o que precisas, quando estás no limite, tens um problema de auto-conhecimento… e isso custa-te anos de vida, milhares de horas de sono e muitos cabelos brancos. Está na altura de te conheceres a sério e afundo, não?
Se a tua cara-metade não confia nas tuas atitudes e comportamentos, se não é assume per si que as tuas intenções são genuínas, tens um problema relacional… a tua relação está muito longe do topo! Está na hora de a fazer evoluir, não?…
Se os teus filhos acham que tens atitudes egoístas, ou se não entendem que o pai/mãe está exausto, tens um problema de parentalidade, não te parece? Porque os adolescentes são difíceis, sim, mas também são capazes da mais profunda empatia, quando a relação está construída nesse sentido… Não será hora de resolver isso?
Se os teus colegas ou colaboradores acham que os estás a enganar, tens um problema no trabalho. Pode ser um problema de relacionamento, como de liderança, mas definitivamente há algo a melhorar aí… ou a mudar!
Se os teus amigos não te compreendem, se não estão disponíveis para te apoiar quando precisas, tens um problema… será que estás a chamar Amigos (com “A” grande) aos “amigos dos copos”? Será que tens amigos de verdade?
É por isto que este artigo tem tudo a ver contigo. Se te conheces e tens apoio, é uma ode à pessoa extraordinária em quem já te estás a transformar (e o meu desafio é fazer-te ganhar consciência de quanto já tens); Se não te conheces e não tens apoio, é uma provocação construtiva, escrita para te fazer ganhar consciência de quanto estás a perder da vida, de quão melhor podem ser os anos restantes da tua vida, sejam 20 sejam 80.
Seja como for, eu sinto-me um sortudo: não porque tive a “sorte” de chegar até aqui com tudo isso à minha volta, mas porque tive quem me ajudasse, ao longo da minha vida, a descobrir o valor e importância de relacionamentos de qualidade (seja com os outros, seja comigo mesmo). Foi assim que construí a minha Vida de Génio. Desafio-te a construíres também a tua!