
José acabou de ser contratado pela empresa X como engenheiro de manutenção industrial, no Porto. Como a empresa X é uma empresa que valoriza as pessoas, ele tem carro da empresa, um salário acima da média e tudo o que precisa para trabalhar… parece o paraíso, certo?
No primeiro dia, o diretor do departamento recebe o José com toda jovialidade, indica-lhe o seu posto de trabalho, e explica que quando houver necessidade de fazer algo, chamam-no (ele está ligado à manutenção das três fábricas da empresa – Porto, Leiria e Viseu). O resto do dia é passado à espera, com ele a ambientar-se ao espaço e ao equipamento. No segundo dia a situação repete-se… e foi assim uma semana.
Na segunda semana começa a formação: o José deve acompanhar um colega mais experiente no trabalho que vai realizar em Leiria. Passam os dias às voltas com as máquinas, com o colega maioritariamente calado e a pedir-lhe para ele lhe passar chaves de fendas, chaves de bocas, berbequins e outras ferramentas (digamos que o colega não era de muitas falas), e assim se passou uma semana.
Na terceira semana o José vai três vezes a Viseu, para resolver o mesmo problema, numa das máquina mais importantes da fábrica. Foi e teve que voltar duas vezes porque lhe indicaram qual era a peça (da primeira vez) e porque teve que reparar um sistema auxiliar que não estava nos diagramas arquivados no Porto (da segunda vez), conseguindo finalmente, à terceira, resolver o assunto.
A isto junta-se uma monumental discussão com o diretor de departamento, à chegada, por causa dos custos das 3 viagens (em vez de só 1): por mais que ele explicasse que era a primeira vez que mexia naquele equipamento, que não tinha tido formação ou acesso a manuais antes, a culpa era dele.
A quarta semana foi passada como a primeira: sem emergências, a “encher chouriços” no Porto. Isso, e a redigir a carta de despedimento. Carro, equipamento, ordenado, nada convenceu o José a ficar.
O José foi o 8.º engenheiro a passar naquele lugar, em 2 anos, e o terceiro que aguentou mais tempo. Afinal, qual o problema?
O problema é dos jovens de hoje que não querem trabalhar, não estão para sofrer ou esforçar-se por ajudar a empresa!
Esta não é uma situação real (nem poderia ser, dado o contrato de confidencialidade com os meus clientes), mas é um cenário imaginado com o que vou vendo nas empresas. E não, o problema não é (só) de quem chega à empresa. É verdade que os jovens de hoje são diferentes dos de há 10, 20 ou 30 anos, mas há uma coisa que temos todos em comum: gostamos de ser bem tratados!
Quando uma empresa:
Não recebe e integra rapidamente um novo colaborador;
Não tem um plano de formação (ou pelo menos um tutor designado);
Não tem um plano do que ele vai fazer nos primeiros tempos;
Não tem consciência que ele vai errar (e um plano para o ajudar a errar menos e acertar mais);
Não tem um plano para que ele absorva a cultura da empresa;
Não o reconhece (não no sentido financeiro, mas no sentido global), a ele e ao seu esforço…
Só pode correr mal. Simples.
Agora impõe-se uma segunda questão: é um problema do departamento de recursos humanos?! Pode ser, mas eu acabo sempre a achar que não, que é um sintoma: o real problema é uma liderança pouco eficaz (nem que seja porque não despede quem tem que ser despedido, no departamento de RH’s).
Mas então, como é que eu (CEO, CFO, líder de topo ou intermédio, chefe de equipa, etc) posso mudar isso???
Estudas, lês, aprendes, procuras quem te ajude, porque ou é algo que entendes e estruturas naturalmente, ou tens de aprender (sem isso serás apenas mais um chefe a mandar fazer, sem conquistar o respeito e admiração de quem chega). Porque só um Líder com “L” grande pode construir, MANTER e alimentar uma Dream Team, colhendo depois os resultados fantásticos que daí vêm.
Diz-me… tu és um Líder com “L” grande?
Ricardo Frade é executive coach e consultor de RH. Trabalha com empresas que procuram melhorar as suas equipas e processos, ajudando-as a atingirem resultados extraordinários com base em pessoas e equipas extraordinárias.