
Mas eles não sabem que têm que fazer o trabalho deles? Tenho que andar sempre atrás deles, de chicote na mão?!
Reconheces este queixume? Podes ser tu a dizê-lo, ou alguém na tua empresa;
podes ser tu o “chicoteado”, ou podes saber quem será; pode ter sido num fornecedor, num cliente, ou internamente… tanto faz: há um problema de ineficiência, desobediência, desmotivação ou inércia, e quem o sente na pele tende a apontar o dedo para os outros. A má notícia, porém, é que está a apontar o dedo para o lado errado. É por isso que eu nunca aceito trabalhar com empresas em que os líderes me dizem “concerte-os, ELES não fazem o que lhes mandam!”. Ao dizê-lo, e ao não aceitar começar por eles, falham naquele que é o pressuposto fundamental da motivação e da eficácia da empresa: o exemplo tem que vir de cima, e, no limite, todos os problemas derivam da liderança. Deixa-me contar-te uma história para perceberes melhor.
Uma empresa tinha um problema muito complexo a resolver: a empresa está um caos, ninguém faz o que é suposto, eu mando e as coisas não aparecem feitas, às vezes apetece mandar todos embora e recomeçar do zero!… soa-te familiar?!
Vamos lá então, analisemos a empresa:
Eles têm medo? Que eu saiba não!
Mas o que acontece quando erram? Pois… as coisas ficam feias nessas alturas!
Como assim? Quando erram são repreendidos, é isso? Sim… às vezes muito.
Ok. E quando acertam? Quando fazem o que é suposto? Como assim?!
Quando fazem o que é suposto, o que acontece? Nada… não é suposto fazerem e pronto? São alguns bebés? Tenho que andar com eles ao colo???
Mas então, se eles são “crucificados” quando as coisas correm mal, e nada acontece quando correm bem… como raio quer que eles assumam riscos? Eu não quero que eles assumam riscos, quero que eles façam o que lhes mando, como lhes mando, no momento em que lhes mando, só isso!
E quem é que lhes explica como se faz? Você passa o tempo a dizer como quer que as coisas aconteçam? Oh, caramba, é preciso explicar? Eles não sabem já? Não é óbvio???
Depende… se eles não souberem, você ensina-os? Caramba, mas eu tenho mais que fazer que andar a ensinar coisas básicas! Para isso mais vale despedir e contratar novos, dos que sabem.
Mas então porque não o faz? Já viu a trabalheira que dá contratar? Currículos, e entrevistas, e mais gente nova???
Certo, mas sem essas pessoas novas vai continuar a ter o mesmo problema, parece-me! Mas como é que eu sei que as pessoas novas são competentes?!
Faz um processo de seleção, triagem, perfilagem e teste
intensivo, para ter a certeza. Um quê????
Não, nem sei o que isso é, mais vale estar quieto! Ao menos com estes sei com o
que conto!
Mas então… se mais vale estar quieto (que é o que está a fazer!),
queixa-se de quê????
Esta não é uma situação real (nem poderia ser, dado o contrato de confidencialidade com os meus clientes), mas é um cenário imaginado que compila (demasiadas) situações reais com que me deparo nas empresas. Deixa-me perguntar-te: achas que o problema neste caso são as pessoas?
À primeira vista sim.
Sim, porque não conseguem navegar tudo isto;
Sim, porque provavelmente estão nos lugares errados;
E sim, porque não parecem querer fazer parte da solução.
Mas não, tudo somado não: isso é apenas uma pequena parte da equação. O verdadeiro problema é, obviamente, a liderança.
O líder triou, perfilou e recrutou de forma consciente e focada?
Não, e por isso parece ter na equipa uma mistura de pessoas certas e erradas.
Formou-as à entrada na empresa?
Não, e por isso elas fazem o melhor que sabem.
Deu-lhes espaço para criarem os seus processos (à falta de formação)?
Sim, deu, mas depois cai-lhes em cima de cada vez que algo corre mal.
Se quando erram são crucificados, e quando acertam “não se passa nada”, eles vão sentir-se motivados e incentivados a inovar?
Não, eles sabem que não vale a pena o risco.
Então, a empresa é gerida pelo medo?!
Não, ou melhor, não conscientemente… mas na prática sim.
Tudo somado, o problema aparente (as pessoas não fazem o seu trabalho sem andarem sempre atrás delas) é só um sintoma… o problema REAL é uma liderança pouco eficaz. 99% das vezes é assim, nem que seja porque não despede quem tem que ser despedido.
Mas então, como é que eu (CEO, CFO, líder de topo ou intermédio, chefe de equipa, etc) posso mudar isso???
Estudas, lês, aprendes, procuras quem te ajude, porque ou é natural em ti ou tens de aprender (sem isso serás apenas mais um chefe a dar ordens, sem o respeito e admiração de todos, e com resultados pobrezinhos). Porque só um Líder com “L” grande pode construir, manter e alimentar uma Dream Team, colhendo depois os resultados fantásticos que daí vêm.
Diz-me… tu és um Líder com “L” grande?
Ricardo Frade é executive coach e consultor de RH. Trabalha com empresas que procuram melhorar as suas equipas e processos, ajudando-as a atingirem resultados extraordinários com base em pessoas e equipas extraordinárias.