O que PARECE vs o que É

A foto circula nas redes sociais, e como todas as que pululam por lá, granjeia comentários de todo o tipo e feitio, dos mais bondosos aos mais corrosivos. Dos que acham um exemplo de simplicidade e humildade aos que urram “populismo!” e outras coisas que não me atrevo a citar aqui, TODOS têm algo a dizer, quase todos sabem mais que os outros, juram a pés juntos que a sua versão é a que é mesmo (“está na cara!”), passando horas a debater a partir de uma falácia.

De expressões como “está na cara!”, ou outras equivalentes (“evidentemente!”, “obviamente!”, “claro!”), estão cheias as entrevistas de de perfilagem que faço, no início de cada intervenção, nas empresas com que trabalho. Elas são, a meu ver, a principal causa de stress, confusão e conflito nas empresas. Usemos o exemplo do Sr. Presidente nas compras para explicar o fenómeno.

Todos temos razão, sempre… a nossa! A nossa razão faz sempre todo o sentido, a partir de quem somos, a menos que consideremos deliberada e conscientemente que não… e isso não quase nunca fazemos, pelo menos naturalmente. De alguma forma fomos/vamos sendo moldados, pelo nosso passado, pelas nossas experiências, pelo que nos ensinaram que estava certo ou errado e pelas crenças que desenvolvemos. É com base em tudo isso, e em quem somos originalmente, que formamos a nossa própria matriz de como vemos o mundo. Por este motivo um barco pode ser para uns sinónimo de grande diversão e para outros de terror absoluto. Apesar disso, um barco é… só um barco. O significado que dou ao barco é, na verdade, o MEU significado. Tão só.

Somos NÓS que damos significado às coisas, consciente ou inconscientemente. Somos nós que damos significa à imagem. E o nosso significado tende a ser percepcionado, aos nossos olhos, como o MAIS CORRETO E PRECISO. Mas não é, ou até pode ser mas as coisas funcionam ao contrário (o que é, é, e no limite eu posso “acertar” e achar algo que seja coincidente com o que é).

Nenhum de nós conhece MESMO as razões por trás da imagem, as motivações que o Sr. Presidente tem. Podem ser todas e mais alguma, mas no limite só ele sabe. A nós sobra-nos o que ACHAMOS, e esse “achamos” é nosso, não é dele. Ou seja, o que é (um homem na fila das compras) confunde-se nas nossas mentes com o que ACHAMOS que é (seja isso um exemplo a seguir, ou um populista à procura de votos).

Fazemos o mesmo no nosso dia-a-dia e nas nossas empresas, seja quando “o patrão quer tramar-nos!” (sem que se percebam as reais motivações por trás das suas ações), seja quando “eles andam a dormir!” (sem que se percebam as questões que os atormentam e impedem de dar o litro). Estamos sempre a reagir ao que achamos que é, e muito facilmente (e de forma leviana, diria) consideramos a parte pelo todo, o óbvio como o real, a nossa razão como “A” razão.

Esta foi uma das grandes descobertas da minha vida: o que É MESMO não tem que ser o que pensas ou sentes. As razões do outro podem estar mais certas que as minhas, ainda que a minha natureza humana me faça defender instintivamente as minhas. E a bola de neve, em muitas empresas, chega em minutos ao “conflito armado”, com departamentos e equipas a degladiarem-se por coisas que, na verdade, são apenas as impressões e percepções individuais de cada um na sala.

Lembremos-nós todos que, no fim, nada do que achamos é relevantes, porque a realidade será sempre a realidade e os nossos palpites são só isso mesmo… nossos, por um lado; palpites, pelo outro. Que cada um escolha, na altura certa, se prefere ter como presidente este cavalheiro ou outro… isso sim, é a parte real da coisa. Que cada um escolha se quer um negócio, equipa e/ou cultura empresarial baseados em palpites e opiniões, ou no que É MESMO. Ou, como dizia Stephen Covey, que cada um escolha olhar do seu ponto de vista, do ponto de vista do outro, mesclando-os sem rodeios, à procura da forma REALMENTE MAIS INTERESSANTE de fazer as coisas.

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