Há dias em que a sociedade nos pede que sejamos outros, em que tudo fica (supostamente) bem se nos comportarmos desta ou daquela forma… este é um desses dias. Ficaria muito bem se eu fosse para a rua distribuir flores, se eu deixasse uma rosa em cada secretária de uma colaboradora minha, se eu ligasse a todas as mulheres que conheço… enfim, se fizesse aquilo que é socialmente esperado e aceite. Pois bem, eu NÃO QUERO fazer isso (com todas as letras), até porque, dessa forma, seria um ato de marketing, de simples “carinho”, de reconhecimento, mas não um gesto da mais profunda gratidão e reverência… é isso que muitas mulheres merecem, não um mísero momento de marketing ou publicidade. Se um sorriso vale ouro, muitos (e intensos!) valem muito mais, e um simples sorriso não expressa o que sinto, uma simples flor “fica curta” face ao que gostaria efetivamente de dizer hoje. Decidi por isso correr o risco de dizer abertamente que NÃO!, não vou para a rua dar flores, não vou tirar uma foto com as mulheres da equipa, não vou entrar na correria de “ideias do dia da mulher”: a mulher deveria ter todo o ano e não um dia!!!
“Mas então”, perguntam vocês, “Ricardo: não vais fazer nada?! Não vais assinalar o dia?!”… claro que vou! Mas fá-lo-ei da forma que, a meu ver, HONRA realmente esse ser especial que é a mulher, com todas as suas capacidades e sensibilidades, com toda a sua complexidade e capacidade de ver mais longe. E vou fazê-lo homenageando duas das mulheres que me tornaram quem sou. De uma lista extensa, escolhi duas (deixando de fora outras que são óbvias, como a minha mãe ou a “minha” Sofia, que amo muito e a quem agradeço com um simples “obrigado”).
Hoje vou homenagear duas mulheres que mudaram MESMO a minha vida… vamos a isso!
Conheci Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, em 1991, ainda um tenro adolescente. Tive a oportunidade de estar com ela em 1997, num encontro de milhares de jovens em Roma. E foi sem dúvida a mulher que mais influenciou quem eu sou hoje como pessoa, como eu vejo o mundo e como
procuro que cada ato meu seja amor e construção para quem me rodeia (ainda que o meu ser meramente “terreno” falhe nessa missão mais vezes do que eu gostaria!).
Chiara foi alguém com uma visão sublime do que significa ser católico, do que significa estar em sintonia com aquilo que foram os ensinamentos de Jesus na terra. Foi ela que me ensinou que “o Amor vence tudo”, que me iluminou na forma como via o mundo e como projetei uma personalidade centrada na criação de
valor, na transparência, na seriedade e franqueza, enfim, na forma positiva como vejo o mundo e como quero nele viver e influenciá-lo. Ela ensinou-me a sofrer, a persistir, a ser capaz de ver bondade onde há adversidade, a ir além de cada obstáculo em busca de algo melhor, a acreditar em todos e cada um que se cruza comigo. Deixou-nos há 11 anos, com um legado imenso de feitos e impactos na igreja, nas religiões em geral e no mundo… uma mulher FANTÁSTICA!!!
Obrigado, Chiara, onde quer que estejas, por tudo o que nos deste, à humanidade e a mim em especial!
Conheci Marjean Holden em Girona, Espanha, num programa de transformação pessoal de seu nome Enlightned Warrior Training Camp (o campo de treinos do guerreiro iluminado). Era um campo pensado para nos fazer “dar 100%” instantaneamente, focado em dotar-nos de ferramentas para prosperar mesmo nos contextos e/ou momentos mais difíceis, quando tudo desmorona. E como é fazendo que se aprende, foram os 5 dias mais duros da minha vida, física, emocional e mentalmente. Às mãos desta mulher, com o seu 1,90m, porte de atriz/dupla de cinema e espírito de gigante, cuja energia parece não mais ter fim, passei das maiores provas que alguma vez pensei passar num programa deste tipo. Mas valeu a pena cada dor, cada gota de suor e cada lágrima ali vertidas…
Alguns meses depois, a nossa família passou pela maior prova que alguma família pode passar: a perda daqueles que, às nossas mãos, cresciam para um futuro melhor. No meio de uma situação que não é o tempo ou o momento de explicar, a minha família encolheu, passando de 5 para 3 pessoas, de uma forma abrupta e completamente idiota, deixando-nos de rastos a todos os níveis (incluindo, e de novo, o financeiro). Durante 5 longos dias tive a “minha” Sofia a chorar nos meus braços sem parar; durante 5 longos dias fui a montanha inamovível que tudo enfrenta, permitindo que tudo funcione; durante longas semanas fui eu o responsável por garantir que tudo funcionava, que tudo recomeçava, que a vida continuava, porque ao meu lado todos estavam desfeitos; durante meses fui aquela versão super-mega-ultra-poderosa de mim que descobri em Espanha, que a Marjean e a sua equipa me mostraram que existia dentro de mim, aquela versão que só ali percebi que existia e que era o meu EU real… Foram os dias mais difíceis das nossas vidas, e se tentasse adivinhar o que aconteceria sem aquele campo com a Marjean, só consigo imaginar um castelo de areia seca a desfazer-se à primeira rajada de vento. Sem ela, sem aquela equipa e sem aquele campo, a minha família poderia já não existir. E para completar, o ciclo, “recuperei” a “minha” Sofia na Malásia, num campo igual, às mãos da Marjean e da sua equipa técnica (de que tive a honra de já fazer parte nessa altura). Ela foi para lá um farrapo, uma amostra da mulher extraordinária que sempre soube que era, mas veio a MELHOR Sofia que alguma vez conheci… Obrigado por tudo, Marjean, e até ao próximo campo!
Está feito: as duas mulheres que marcaram a minha vida. A que se juntam a minha mãe, a Sofia, tantas outras, que me ajudaram e ajudam no dia-a-dia (obrigado Amélia e Cláudia!), para que a minha missão por cá (ajudar pessoas a crescer) se torne mais fácil e efetiva.
Neste dia da mulher não vou entregar flores, não vou tirar fotos e não vou engendrar um qualquer plano de marketing de guerrilha para dar nas vistas: vou HONRAR as mulheres que me mudaram, as que me salvaram, as que me ajudam e as que foram luz na minha vida.
Façam o mesmo: com certeza chegaremos a todas elas em poucos minutos.
Obrigado!